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Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofreu duas derrotas importantes na Câmara dos Deputados nesta semana, em um claro movimento de retaliação do Congresso às recentes decisões do Planalto. A rejeição de duas medidas provisórias — uma que tratava da reoneração da folha de pagamento para alguns setores da economia e outra que regulamentava incentivos tributários — evidenciou a insatisfação dos parlamentares, especialmente após o veto de Lula ao aumento do número de deputados e a intenção do governo de retomar a cobrança do IOF sobre operações financeiras.

Câmara reage com recados diretos ao Planalto

De acordo com bastidores apurados por interlocutores no Congresso, as votações desta semana funcionaram como uma forma de enviar um sinal direto ao Palácio do Planalto: a base aliada não está disposta a votar temas de interesse do governo enquanto não houver mais diálogo político e concessões estratégicas. Deputados, inclusive da base, se queixaram do que chamam de “decisões unilaterais” do Executivo.

O principal estopim foi o veto de Lula ao projeto que previa o aumento no número de cadeiras da Câmara. A proposta buscava ajustar a representatividade parlamentar com base nos dados do último Censo Demográfico, o que ampliaria o número de deputados federais em estados com crescimento populacional. Para muitos parlamentares, a negativa do presidente foi interpretada como um gesto de desprestígio institucional.

Retomada do IOF intensifica tensão com o Congresso

Além disso, outro fator agravou a crise: a articulação da equipe econômica para retomar a cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) a partir de 2027. A medida havia sido suspensa ainda no governo Bolsonaro, e agora, sob Lula, o Ministério da Fazenda tenta reintroduzi-la como forma de compensar perdas fiscais em meio ao novo arcabouço fiscal.

Embora ainda não tenha sido formalizada por meio de projeto ou medida provisória, a intenção já é vista como problemática por parlamentares, sobretudo por se tratar de um imposto com impacto direto sobre o consumidor. A movimentação desagradou aliados e intensificou críticas à condução política do governo junto ao Congresso Nacional.

Aliados reclamam de falta de articulação política

A avaliação entre líderes partidários é de que o governo tem falhado na articulação com o Legislativo. Segundo parlamentares ouvidos reservadamente, falta habilidade política para negociar temas sensíveis e lidar com divergências internas da base aliada.

Mesmo partidos do chamado “centrão”, que compõem a sustentação do governo na Câmara, demonstraram irritação com a forma como o Planalto tem conduzido as negociações. A percepção é de que Lula e sua equipe mais próxima, especialmente no Ministério da Fazenda e na Casa Civil, têm adotado uma postura excessivamente técnica, ignorando as dinâmicas políticas e os interesses do Congresso.

Derrotas acendem alerta no Planalto

As derrotas recentes são consideradas simbólicas, mas colocam em xeque a governabilidade do Executivo. No cenário atual, medidas importantes para o equilíbrio fiscal e o avanço da agenda de Lula no segundo semestre de 2025 podem enfrentar forte resistência, especialmente se o clima de tensão não for contornado.

Assessores presidenciais já admitem, nos bastidores, que será necessário retomar o diálogo com mais intensidade e, possivelmente, ceder em algumas pautas para evitar uma escalada de obstruções legislativas.

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