
Um relatório recente da Polícia Federal (PF) revelou detalhes sobre a suposta articulação do ex-presidente Jair Bolsonaro para ajudar seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, a manter seu mandato enquanto estava nos Estados Unidos. O documento, que faz parte de um inquérito em andamento, indica que o ex-presidente tentou coordenar uma série de ações com aliados políticos e assessores, buscando contornar as regras que regem a ausência de parlamentares. O episódio joga luz sobre as complexas manobras políticas e legais que têm marcado a vida pública da família Bolsonaro desde o final do último mandato presidencial.
A investigação da PF teve acesso a comunicações, incluindo trocas de mensagens e áudios, que apontam para uma estratégia coordenada para evitar que Eduardo perdesse o mandato por faltas não justificadas na Câmara dos Deputados. O deputado, que viajou para os Estados Unidos em fevereiro, ultrapassou o período de 120 dias permitido para licença. De acordo com a PF, uma das propostas que circularam entre os envolvidos sugeria que Eduardo conseguisse uma “missão temporária de interesse público” ligada ao governo do estado de São Paulo, o que daria uma justificativa institucional para sua ausência e o blindaria da perda do cargo.
A articulação, segundo o relatório, mostrava o envolvimento direto de Jair Bolsonaro. Em uma das comunicações, ele teria encaminhado uma mensagem a Eduardo e a outros 47 deputados federais, pedindo apoio a um projeto que permitiria que parlamentares em missões no exterior não perdessem seus mandatos. A PF ainda relata que o ex-presidente enviou uma mensagem de áudio a um assessor de Eduardo, Carlos Eduardo Guimarães, solicitando que ele encontrasse a parte do regimento interno da Câmara que trata sobre licenças. O objetivo era claro: encontrar uma brecha ou adicionar uma nova cláusula que permitisse estender o período de afastamento de quatro meses.
A ação de Bolsonaro não parou por aí. O relatório da PF indica que o ex-presidente buscou o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante, para ajudá-lo a protocolar um Projeto de Resolução. A iniciativa, que foi de fato apresentada, é vista pelos investigadores como uma consequência direta dos esforços de Jair Bolsonaro para garantir a permanência do filho no cargo. A defesa de Sóstenes Cavalcante, na época, negou que a apresentação do projeto tivesse qualquer relação com o caso de Eduardo, mas a PF argumenta o contrário, baseando-se nas mensagens trocadas.